domingo, 4 de dezembro de 2011

Através do rádio, eles fazem história

O radioamadorismo é usado para fazer amizades e mandar desde simples recado a mensagem capaz de salvar vidas

Ana Paula Pessoto

Em época de constante evolução das tecnologias digitais, a prática do radioamadorismo continua viva e a serviço da comunidade. Atualmente, em Bauru há 78 adeptos do hobby que, quando todas as formas de comunicação falham, entra em ação com sua capacidade de comunicação inalterada até mesmo diante de grandes desastres naturais. Entre pessoas da mesma cidade ou até mesmo com astronautas fora da Terra, o radioamador manda seu recado, faz amigos e conta suas histórias...



“Bauru já teve bem mais radioamadores, mas alguns morreram e outros desistiram. A prática é bastante aceita por quem conhece, mas o problema é que muita gente nem sabe o que é radioamadorismo. Tenho milhares de cartões mandados pelas pessoas com quem falo ou falei. Trocamos cartões e, com isso, registramos esse contato. É muito gostoso saber que você pode ter amizade com gente tão distante pelo rádio”, explica Keneti Kawashima, conhecido no radioamadorismo pelo indicativo de chamada PY2EZV.
 







O primeiro contato que ele fez foi com um colega do Mato Grosso e esse primeiro contato ficou registrado como seu padrinho.



“Tive muitos contatos marcantes. Falei com um voluntário na África e com um radioamador nas Ilhas Falkland, que acredito ser o mais difícil ou um deles”.



Keneti conta que as histórias de quem pratica esse hobby são muitas. Como a de um amigo que, certa vez, fez contato com um radioamador de um país distante e pediu para que ele mandasse um cartão para registrá-lo. Ao receber o cartão, ele mandaria um seu. Para sua surpresa, era o rei Hussein da Jordânia. “Há uma lista com personalidades do mundo inteiro que são radioamadores, como Juscelino Kubitschek e Marlon Brando, por exemplo”, acrescenta Augusto de Oliveira Leme, conhecido pelo indicativo de chamada PY2LEM.



A história de “seo” Keneti com o radioamadorismo começou quando ele ainda usava calças curtas e observava os gestos de um radioamador lá pelo ano de 1966, na cidade de Alfredo Marcondes. “Eu ficava olhando e imaginando se ele estava falando sozinho. Passei a gostar do assunto”.



Mais tarde, um circo chegou na cidade e o menino Keneti viu uma antena sobre o circo que imaginou ser de rádio. Era mesmo. Segundo ele, um palhaço era radioamador e falava com sua família em Minas Gerais onde quer que ele estivesse. “Naquela época, para fazer uma ligação de telefone esperava-se horas. Fiz amizade com ele, que me explicou como a coisa funcionava, e decidi que um dia seria radioamador. Fiz a primeira prova que foi implantada em Botucatu para adquirir minha licença, em 1967”.



Já Augusto experimentou o sabor do hobby pela primeira vez quando notou sua funcionalidade na comunicação com o falecimento de seu pai. “Não tínhamos como avisar minha tia porque os telefones eram lentos e demoraria muito. Morávamos em Mineiros do Tietê e um radioamador passou a mensagem para Maringá, onde ela morava, e ela conseguiu chegar ao velório a tempo. Eu tinha 13 anos e fiquei com esse negócio de radioamador na cabeça. Mais tarde, liguei um rádio e ouvi uns caras conversando, isso em 1964, imaginei que seria o tal do radioamador. Fiquei ouvindo e me interessei”, recorda-se.



Augusto diz que engana-se quem acredita que é necessário gastar muito para ser um radioamador. Ele afirma que, com cerca de R$2 mil é possível ter um bom equipamento: “O problema é que você passa a gostar e querer aparelhos novos e mais potentes”, diz com bom humor.



E os amantes do radioamadorismo agora podem contar com a edição nacional na revista “CQRadioamadorismo”. “Ela fala tudo sobre o radioamadorismo, desde técnicas, histórias... É uma Bíblia para nós. Uma literatura fácil e prática que esperávamos há muito tempo em português, já que só existia em inglês e japonês”, orgulha-se “seo” Keneti.





Sem fronteiras



Apesar do avanço tecnológico na área da comunicação, falhas são bastante comuns frente a grandes desastres naturais, mas não quando o assunto é o radioamadorismo. Nesses casos, eles formam uma rede de comunicação para auxiliar em tudo o que for necessário, como pedido de ajuda e até resgates. “Isso aconteceu recentemente com o último tsunami no Japão e o acidente com a usina nuclear. Os radioamadores formaram uma rede sempre alerta, já que a comunicação moderna ficou danificada”, lembra Keneti.



Já com o “Bug do milênio”, quando o mundo temia que a passagem do ano de 1999 para 2000 pudesse causar pane nos sistemas de computador ao redor do mundo, o que geraria sérios transtornos, Keneti coordenou uma rede de radioamadores de praticamente metade do Estado de São Paulo a pedido do comandante da 6ª Circunscrição de Serviço Militar (6ª CSM) de Bauru. “Ele pediu que nós auxiliássemos caso houvesse problemas, mas graças a Deus deu tudo certo. Recebemos ofício e um diploma de agradecimento do Ministério da Guerra. Ficamos em alerta enquanto todos festejavam”.



Augusto também pôde participar de uma rede dessas há poucos anos com a tragédia causada por enchentes no Estado de Santa Catarina. “Houve a necessidade e eu participei transmitindo duas ou três mensagens para diferentes estações, já que, por causa da propagação de ondas, uma pode não ouvir a outra. Até sem energia o rádio funciona, basta colocarmos bateria”.







Repetidora



Há 30 anos Bauru conta com uma repetidora funcionando ininterruptamente. “A gente fala, o equipamento recebe e manda para outras localidades. Conseguimos medicação de forma rápida e ajudamos na localização de caminhões roubados e motoristas desaparecidos”, afirma Augusto. E, segundo ele, engana-se quem pensa que o radioamadorismo é um hobby ultrapassado.



Através do computador, os radioamadores usam os moldes digitais de transmissão, onde é possível transmitir até imagens.



Fonte:   http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=218799

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