sábado, 5 de novembro de 2011

Clube do ABCD reúne 1,5 mil radioamadores

Com a ‘internet do século passado’, moradores da região batem papo e prestam serviço à comunidade Evandro Enoshita

evandroe@abcdbomdia.com

 O engenheiro químico aposentado Hugo Kresch, 77 anos, tem o rádio no sangue. Cresceu na oficina do pai, técnico desses aparelhos, e mesmo tendo seguido por uma carreira distante das ondas sonoras, nunca abandonou a paixão. Desde 1974, ele é um dos 1,5 mil radioamadores que “modulam” (como eles chamam a conversa por esses rádios) no ABCD.

Para o aposentado, conversar com os amigos pelo rádio é quase um ritual. Sempre que pode, ele se senta na poltrona de couro preto, na sala de sua casa, em São Bernardo, e prepara-se para “perder” boas horas de conversa.

“Fico em média três horas por dia no rádio. Mas a minha mulher não gosta. Fala que é besteira. Meus filhos também não se interessam. Mas junto com a fotografia e o artesanato em madeira, esse é um dos meus hobbies”, destacou.

DIVERSÃO

No rádio, discute-se de tudo, mas os temas técnicos estão sempre em pauta. É um operador testando um aparelho de rádio novo, outro que fala sobre o trânsito. Na tarde de ontem, por exemplo, o assunto no rádio de Hugo era a entrevista do aposentado para o BOM DIA. Não foram poucos os que interromperam a entrevista para perguntar em qual jornal seria publicada esta matéria.

E foi pelo rádio do engenheiro aposentado que entrevistamos o técnico em telefonia Sérgio Secco, 45 anos. Morador de São Bernardo, ele passa pelo menos duas horas por dia no trânsito. Nesse período, ele aproveita para ficar no rádio.


“Sempre me interessei muito pelo aparelho. Se deixar eu passo horas conversando com os amigos”, ressaltou Secco, que acabou transformando a mulher em uma radioamadora. “Posso me considerar um privilegiado por isso”, completou.


SOLIDARIEDADE

Mas não só de diversão vivem os radioamadores. O técnico de telefonia, por exemplo, é membro de um grupo de voluntários ligado à Cruz Vermelha. E já contou com a ajuda dos colegas do rádio em uma situação de perigo.


“Um dia fui fazer uma pescaria em uma ilha do litoral. O mar virou e ficamos isolados. Foi pelo rádio amador que conseguimos pedir socorro”, ressaltou.


Em outras situações, o rádio serviu até para ajudar um motorista perdido, conforme nos conta Kresch. “Estava no rádio quando um caminhoneiro disse estar perdido no Centro de São Bernardo. Foi quando um colega radioamador fechou o comércio e saiu com o carro para ajudá-lo a achar o caminho”, relata o engenheiro.


Como entrar para a turma

Existem dois tipos de modalidade de radioamadorismo. Os operadores da Faixa do Cidadão, os famosos rádios PX e os radioamadores propriamente ditos, que operam rádios mais potentes. Nos dois casos, a fiscalização das estações cabe à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).


Os operadores da Faixa de Cidadão ficam habilitados para utilizar somente aparelhos registrados pelo Ministério das Comunicações, e ficam proibidos de fazer qualquer modificação. Além disso, o alcance dos aparelhos é restrito a poucos quilômetros. Cada mensagem não pode passar de três minutos de duração, exceto em casos de emergência.


Já os radioamadores ficam livres para modificar os aparelhos, desde que não ultrapassem as regras determinadas pela Anatel. O alcance desses rádios também é maior que o dos PX, podendo atingir qualquer área do planeta, sem a limitação de tempo máximo para cada conversa.


Mas para se tornar um radioamador, não basta apenas comprar outra aparelhagem de rádio. Nos dois casos, é preciso primeiramente obter a licença junto a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que pode ser pedida junto aos clubes de radioamadores e à Labre (Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão)


Mas no caso dos interessados em operar em outras faixas além dos rádios PX, será preciso ainda prestar um exame de habilitação.

São três classes de licença, que variam de acordo com a potência do aparelho. O radioamador começa na categoria C, e, para evoluir de categoria, é preciso prestar outras provas, em que serão avaliada a habilidade do candidato em temas como código morse, legislação de telecomunicações e ética operacional.


Essa questão ética, inclusive, também está presente nos assuntos discutidos pelos radioamadores. A regulamentação proíbe mensagens com assuntos comerciais, políticos, raciais e religiosos.


Outra proibição para os radioamadores inclui a transmissão de discursos, música, e outros tipos de diversões públicas via rádio.


Rádio e computadores se unem na mão dos aficionados

Mas será que uma tecnologia criada no século passado tem condições de sobreviver no século 21, com a internet, as salas de bate-papo, páginas de relacionamento e programas de mensagens? A resposta do radioamador Hugo Kresch chega a ser curiosa. “No começo da internet, a gente achava que o rádio iria acabar. Mas no final não foi assim. O radioamador é tão apaixonado que ele muitas vezes recebe um e-mail de um amigo radioamador e prefere responder por meio do rádio”, destacou.


Ainda segundo Kresch, é comum que muitos radioamadores instalem os seus rádios junto dos seus computadores.


“Ao invés de falar, as pessoas digitam um texto e enviam a mensagem pelo rádio para outra pessoa”, completou

 
 
FONTE:     http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/3204/Clube+do+ABCD+reune+1,5+mil+radioamadores

Nenhum comentário: